Sonhos de Nada
Eu era criança, andava sozinho pelo centro. Pegava o Rua XV-Barigui, que subia a Cândido Lopes, e descia em frente da Biblioteca Pública.
O centro era meu. Andava por tudo, sem medo de ser feliz. Entrava nas lojas da Cidadela na Marechal e ficava lá, olhando aquelas maquetes dos edifícios, cheios de balaústres, sonhando em, um dia, ser arquiteto e trabalhar lá.
Entrava nas agências de turismo e ficava olhando as maquetes dos aviões da Luftansa, dava pra ver o interior do avião, com as pessoinhas lá dentro, felizes de tar lá, sonhava em viajar e, um dia, entrar nem avião de verdade como aquele e conhecer o mundo.
Pegava os folhetos de viagens e dos aviões: Luftansa, Disney, Pan-Am, Orlando, Concorde, Varig, Miami, DC-10… tudo flutuava em sonho em minha cachola de menino.
Entrava na Tabacaria Lima na Tiradentes e ficava lá, olhando as maquetes e modelos Revell, sonhando em poder comprar e, um dia, montar um deles, de preferência um daqueles mais caros.
Esse sonho, pelo menos, tava à altura de minhas mãos: às vezes, inventava alguma coisa, pintava uma estátua de gesso ou um quadro e fazia uma rifa, Qual o Nome de Sua Simpatia?, juntava um dinheirinho, voltava lá e comprava algum dos kits mais baratos, montava, brincava, brincava e voltava à sonhar.
Quando somos criança, olhamos tanto, pensamos tanto e sonhamos com tanta coisa. Acho que quando crescemos, também...
