O Mapi
Atualizado: 23 de jan.
A presença do Edifício Mapi, um clássico da arquitetura moderna paranaense, que se ergue desde o final dos anos 50, ao lado do Morro do Boi, entre a Praia Brava e a Praia Mansa, em Caiobá, é notória.
O monumental e icônico prédio, que traz no equilíbrio entre a funcionalidade e a estética, o racionalismo, nasceu multiuso: edifício residencial, restaurante panorâmico, parque de piscinas e um apart hotel pra curtas temporadas na praia.
Vistoso ao lado do morro, o edifício, de 16 andares, forma de longe um quadrado perfeito e o desenho das janelas venezianas brancas proporcionam um interessante movimento caleidoscópico pra sua fachada.
Típico da arquitetura da época, o revestimento externo é formado por pastilhas minúsculas de vidro e um mosaico assinado por Franco Giglio, italiano que veio pro Brasil, que possui vários painéis em Curitiba.
O projeto do complexo é do arquiteto tcheco Adolf Franz Heep, que trabalhou com Le Corbusier e naturalizou-se brasileiro e do arquiteto e engenheiro catarinense Elgson Ribeiro Gomes, que morou em Curitiba, ajudou a fundar o curso de Arquitetura da Federal e é um dos principais nomes do modernismo no Paraná.
A implantação do complexo, que foi uma ousadia pra época, gerou grande impacto no mercado imobiliário local, já que o litoral do Paraná naquela época, se resumia à vilas de pescadores.
Cada pavimento, racionalmente composto por dez quitinetes com sala, cozinha, área de serviço, banheiro e dois quartos e dois apartamentos maiores em cada ponta, seguindo a cartilha modernista, o edifício se caracteriza como não elitista, ou seja, feito pro homem comum.
Pra favorecer a ventilação, a fachada é voltada pro nordeste, de onde vem o vento predominante no litoral e os corredores de circulação são vazados com Cobogó, proporcionando ventilação cruzada e dispensando o uso de ar-condicionado.
A piscina, pensada como um elemento arquitetônico que respeita a natureza do entorno, é um capítulo à parte, integrada às imensas pedras e à vegetação do Morro do Boi.
Pra lançar o empreendimento, houve a antecipação do uso de stand de vendas com a reprodução de um apartamento decorado em Curitiba, com a mesma insolação, instalado no alto do Edificio Acácia na Praça Zacarias, pra que os compradores pudessem testar a incidência solar e comprar os apartamentos que estavam em Caiobá.
O edifício principal encintra-se em pé, com pequenas o intervenções que descaracterizaram sua funcionalidade, mas não sua estética externa geral. Da mesma forma, o conjunto de piscinas sobrevive, apesar das grades de PVC que o cercam.
O hotel foi devidamente descaracterizado com aplicação de chapas de ACM, que além de esconderam suas pastilhas originais, desmantiveram a ideia do conjunto.
O item mais judiado pelo passar das décadas foi o restaurante. Situado no canto do terreno, o que deveria ser, ou foi um dia, uma construção triangular aberta e ventilada, apoiada solene e elegantemente sobre pilotis, é hoje um pastiche de lojas e outros usos, que nada lembra o projeto original. Sinal dos novos tempos, de novas necessidades e de novas condutas. Uma lástima…
