Na Rua da Paz
Atualizado: 15 de ago. de 2021
Naquele domingo, numa morna e ensolarada manhã de inverno, com cara de primavera, nos encontramos pra desenhar uma linda e simpática casa de 1949, na Rua da Paz.
O endereço me trouxe recordações, pois ao lado da retratada, no mesmo terreno e com a mesma linha arquitetônica, fica a casa que foi sede da Sunab, órgão federal extinto em 1997.
Era ali que Lincoln Pereira Sardenberg, meu sogro, um sujeito cem por cento, trabalhava e viveu suas histórias, as quais ele adorava nos contar e bisar.
Lincoln, mesmo sendo apenas o padrasto, foi um verdadeiro pai pra Raquel e pro Raphael. Gostava muito dele e, acredito, ele também de mim.
Desenhando na Rua da Paz, fiquei em paz e cheio de boas ideias, sentado exatamente em frente da casa de número cinquenta e um, pensando no Lincoln e rindo sozinho.
A antiga sede da Sunab, possui velhos pinheiros australianos no jardim. Uma vez Lincoln ganhou uma muda deles e a plantou numa lata.
Depois de sua morte, sabendo do tamanho avantajado que o então pinheirinho poderia alcançar, resolvemos doá-lo pro Jardim Botânico, que o plantou no setor de árvores exóticas.
O chamamos de Pinheiro do Vô Lincoln. Fomos lá várias vezes, onde foi plantado, mas, atualmente, não temos certeza, qual exatamente é o pinheiro certo.
Como disse, daquele endereço, na Rua da Paz, saiu saborosas histórias ocorridas durante o expediente.
Uma delas, era sobre um colega de trabalho, que vendo um tubo de papelão sobre uma das mesas, resolveu enfiar, você sabe o que, dentro do tubo e saiu desfilando e fazendo graça pela repartição.
Todos se divertiram com a molecagem e safadeza do ato e logo voltaram a se concentrar plenamente, cada um no seu trabalho...
Logo em seguida, entrou na sala, um outro colega, que não tinha participado dos acontecimentos recentes.
Ao ver o mesmo tubo de papelão sobre a mesa, também resolveu fazer graça. Não teve dúvida: colocou o tubo na boca e fez tu-ru-tu-tu, tu-ru-tu-tu, fingindo que tocava corneta, enquanto marchava pela sala num desfile militar imaginário.
Ele não imaginava o sucesso que a brincadeira dele provocaria, pois todos rolavam de tanto rir.
Surpreso com a receptividade, continuou a marcha, provocando uma verdadeira hecatombe de risos por toda aquela distinta repartição federal.
Acho que até hoje o coitado não imagina a verdadeira razão do seu sucesso como animador de platéia.
Saudades, Lincoln...
