A Inglesa
Então iríamos passar o feriado de sete de setembro numa chácara em Morretes! Seriam duas turmas da Federal juntas: A de Regina Maria Machado, minha amiga de Comunicação Visual e a de Eduardo, seu irmão, com o pessoal dele, de Administração.
Uma semana antes, um encontro no Kharina, no Batel, pra que os acertos fossem acertados. Comes, bebes e outros detalhes do que estávamos bolando.
Yara, nossa amiga do curso, chegou acompanhada de uma moça alta, bonita e um tanto diferente. Pessoal, esta é minha prima. Seu nome é Kathelyn, ela é inglesa e está passando uns dias na minha casa. Há algum problema de a termos conosco? É claro que não haveria e lá fomos todos nós.
A chácara dos Machado era uma coisa linda, tudo muito bom, uma casa enorme e todos, a seu modo, tentando ajudar Kathelyn a se sentir at home.
Raquel e eu, por exemplo, nos esforçamos a ensinar-lhe um português básico: Lei-te, bo-la-cha, etc. Os rapazes solteiros, por outro lado, passaram o tempo ensinando e falando na frente dela palavras que uma moça de família não deveria aprender.
Apesar de se vestir de um modo peculiar, com tênis maiores que os meus, a inglesa era tão simpática quanto bonita.
Naqueles tempos sem Internet, uma novela dominava a cena: Roque Santeiro. E este era o tema da festa à fantasia que havíamos programado pro sábado à noite, um dia antes de voltarmos à Curitiba.
A festa foi incrível. Os personagens da novela, desfilavam pela enorme sala da casa. Cada porta que se abria, mostrava um mais caprichado que o outro, provocando muito riso e muita alegria pelo salão.
Raquel era a Porcina mais linda do mundo. Mesmo com um vestido feito de papel laminado vermelho, estava mais original que a viúva do folhetim. Eu era seu par, mas não era o Sinhozinho, pois o personagem cabia melhor ao Bira. Eu era o sério, sóbrio e incompreendido professor Astromar Junqueira.
No meio da festa, Yara pediu pra parar a música. Sua prima gostaria de dizer algumas palavras de agradecimento a todos e ela traduziria o discurso dela pro português.
Fez-se o silêncio necessário. Kathelyn foi pro meio da grande roda formada e então disse: Eu não sou inglesa porra nenhuma!!
Silêncio no salão. Muita coisa havia sido dita, em bom português, portanto, muita calma nessa hora. Foi uma saia justa inesquecível.
Regina, Yara e sua prima, haviam combinado tudo com antecedência. A prima era paulistana, professora de inglês e atriz. Algumas roupas e os tênis do irmão dela, completaram a farsa.
As três se escondiam no banheiro pra rir e assim poder levar aquela situação adiante por tantos dias. Esta história fabulosa rendeu muito pano prá manga. Rendeu muitas risadas e, pra mim pelo menos, ainda rende até hoje.




